• <em>Lutra lutra</em> (Linnaeus, 1758)
    Lontra em fotoarmadilhagem
<em>Lutra lutra</em> (Linnaeus, 1758)
<em>Lutra lutra</em> (Linnaeus, 1758)

Animais
MamíferosLutra lutra (Linnaeus, 1758)


Nome vulgar:
Lontra

Família:
Mustelidae

Origem e distribuição:
Pode ser encontrada em praticamente toda a Europa, no Norte de África (Magrebe), Próximo e Médio Oriente, Sudeste Asiático e grande parte da Ásia Central e Extremo Oriente, estando ausente das ilhas mediterrânicas. Na Península Ibérica encontra-se estabelecida desde o nível médio da água do mar até uma altitude de aproximadamente 1800m.

Presença na Universidade de Aveiro:
Na Universidade de Aveiro pode ser observada durante a noite a circular entre zonas de tubagens com água e as salinas da Universidade de Aveiro.

Descrição:
A lontra é um carnívoro aquático com dimensões entre os 50 e os 82 cm, desde o focinho à base da cauda. Apresenta a cabeça achatada, orelhas pequenas e arredondadas cobertas de pelo e focinho largo e arredondado. Apesar de não apresentar as adaptações mais extraordinárias ao meio aquático, exibe um corpo alongado e esguio semelhante a um torpedo, cauda grossa que se torna mais achatada em direção à base, podendo atingir 50 cm de comprimento e membranas interdigitais em todas as patas. Além disso, apresenta ainda os olhos, narinas e orelhas posicionados no topo da cabeça, o que lhe permite ter o resto do corpo dentro de água permanecendo vigilantes. O pelo impermeável é castanho, à exceção da zona ventral e do pescoço que é esbranquiçado. Possui vibrissas no focinho e nos antebraços que facilitam a deteção de peixes em águas turvas.

Indícios de presença:
Os vestígios, em particular os excrementos de lontra, são facilmente identificáveis em locais visíveis, como grandes pedras, troncos caídos perto da margem, pontos de desembocadura de afluentes ou canais de água, e elevações ou plataformas rochosas sob pontes. Normalmente, observam-se montículos compostos por espinhas ou escamas de peixes, podendo ainda apresentar partes duras de lagostins, unidas por um líquido viscoso que mancha o local da deposição. O odor desses excrementos é característico, variando entre cheiro de peixe e marisco, conforme as presas que ingeriu. Na época de cria, a fêmea defeca na água para não deixar vestígios para potenciais predadores. Os excrementos frescos têm uma tonalidade preto-alcatrão ou avermelhada, mas à medida que o tempo passa sob a ação da chuva e da geodinâmica externa, vão branqueando, e tornam-se semelhantes ao aspeto deixado pela cinza de charuto, onde são visíveis ossos e vértebras de peixes ou exosqueletos de crustáceos. Utiliza trilhos específicos na vegetação alta para entrar e sair da água, criando caminhos bem marcados e sem vegetação. As pegadas possuem impressões da membrana interdigital e variam de 6 a 7 cm de comprimento, com largura dependendo da marcação do quinto dedo e da abertura da pata. Outros indícios de presença comuns associados à lontra são as camas na vegetação (porções de vegetação pisoteada) que usa para descansar e zonas onde a vegetação foi arrancada junto às tocas.

Habitat e ecologia:
A lontra está associada a ambientes húmidos pouco degradados e abundantes em alimento. Pode ser encontrada em áreas com vegetação, frequentemente associadas a massas de água doce, como zonas pantanosas, canais, rios ou lagos, assim como em áreas de água salobra, incluindo a costa e estuários. Repousa em tocas feitas no sedimento junto às margens dos rios, em túneis na turfa ou em fendas rochosas. As entradas das tocas podem ser à superfície ou subaquáticas, com uma chaminé de arejamento. Pode também descansar sobre caniçais ou outros tipos de vegetação, em camas que chegam às várias dezenas ao longo de todo o seu considerável território.

Dieta:
Tradicionalmente, a dieta da lontra é composta principalmente por peixes como a enguia, carpas, percas ou lúcios, geralmente com menos de 20-25 cm de comprimento. Contudo, tende a preferir lagostim em detrimento dos peixes, uma vez que são mais fáceis de capturar, economizando tempo e energia. Utiliza descarregadores de água que separam as linhas de água interiores dos canais principais como locais estratégicos para capturar as suas presas, já que nestas áreas existe acumulação de lagostins que ficam retidos ao tentar transpor essas barreiras. Junto das comportas e ao longo das margens das linhas de água podem ser encontrados depósitos de exosqueletos de lagostins, que exalam um odor intenso, detetável a vários metros de distância. Para complementar a dieta, a lontra alimenta-se de insetos, pequenas aves, roedores como a rata-de-água (Arvicola sapidus), anfíbios, cobras-de-água (Natrix maura e Natrix astreptophora) e outras espécies com hábitos aquáticos ou semiaquáticos, sendo estas presas capturadas na água ou nas suas proximidades.

Reprodução:
São animais poliéstricos sendo capazes de se reproduzir ao longo de todo o ano, dependendo do fotoperíodo. Normalmente têm uma ninhada por ano e o período de gestação dura entre 61 e 63 dias, com ninhadas que vão de 1 a 5 crias. A parentalidade é uma tarefa exclusiva da fêmea que fica com as crias até perfazerem um ano de vida. Dão à luz em tocas com entradas submersas feitas nas margens de linhas de água. As crias nascem cegas com cerca de 130 g e começam a abrir os olhos a partir dos 35 dias de vida. O desmame ocorre a partir das 16 semanas, e com 3 meses começam a ser introduzidas na água e incentivadas a nadar, dependendo um pouco da personalidade de cada uma. Atingem a maturidade sexual a partir dos dois anos.

Organização social:
A lontra apresenta territórios de grandes dimensões, cuja extensão depende das características do habitat, como a morfologia da costa, a disponibilidade de recursos e a proximidade a áreas urbanas. Os machos adultos apresentam um comportamento estritamente solitário durante todo o ano, são geralmente intolerantes à presença de outros machos, mas no período de acasalamento associam-se temporariamente às fêmeas para a reprodução. Os territórios dos machos têm um comprimento médio de 15 km. As fêmeas podem viver solitariamente ou em grupos familiares que incluem outras fêmeas e os seus descendentes. Os territórios das fêmeas são de menores dimensões, com um comprimento médio de aproximadamente 7 km, podendo sobrepor-se ao território de vários machos.

Comportamento:
As lontras têm atividade noturna e crepuscular, podendo ter alguma atividade diurna no caso de se alimentarem de peixes noturnos ou se a pressão humana durante o dia for praticamente nula. Durante o dia descansam nas tocas e em camas feitas na vegetação ao longo das margens dos cursos de água. Os machos são mais móveis que os grupos familiares, sendo mais notória esta diferença quando as fêmeas estão no período de cria. São ótimas nadadoras, usando a cauda e os membros posteriores como propulsão e são capazes de permanecer submersas durante 5 minutos durante um mergulho. Ocupam grande parte do tempo a nadar e a tratar do pelo.

Longevidade:
Podem viver 15 anos , mas dificilmente ultrapassam os 3 ou 4 anos de idade, principalmente devido à pressão humana.

Ameaças:
As principais ameaças para esta espécie são a vulnerabilidade dos sistemas aquáticos em que ocorrem, a poluição, a remoção de vegetação ripária, os atropelamentos e a captura e afogamento em redes de pesca de enguias e em armadilhas para lagostas e/ou lagostins. As crias podem ainda ser mortas ocasionalmente por cães.

Estatuto de ameaça:
Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental – Pouco Preocupante IUCN – Quase ameaçada Diretiva Habitats – Anexo B - II e B - IV Convenção de Berna – Anexo II Convenção de Bona – Anexo I Tendência populacional – Em declínio

Curiosidades:
Desempenham um papel crucial na manutenção de ecossistemas saudáveis. Uma vez que são animais com comportamento oportunista, tendem a alimentar-se e a capturar animais mais acessíveis, sendo estes os mais fracos, menos adaptados ou doentes, deste modo, removendo-os, mantêm os sistemas aquáticos saudáveis e em equilíbrio.